Mães há muitas - e eu não quero ser uma!
Não querer ser mãe é uma escolha legítima da mulher e não deveria ser alvo do julgamento social.
Quando reencontramos amigos ou familiares que não vemos há muito tempo, cedo ou tarde lá vem a pergunta sacramental: "já tens filhos?" ou "então quando vêm os bebés?". Haja bom senso!!! Devia ser proibido fazer estas perguntas! Porque podem até causar grande sofrimento, caso o casal, por razões médicas, não possa gerar filhos biológicos. Ou simplesmente porque se trata de uma intrusão nas decisões mais íntimas das pessoas.
Está socialmente instituído que quando se entra na idade adulta, a principal tarefa a cumprir, após a independência financeira, é constituir família. Ter filhos é visto pela sociedade como o cumprimento de um dever para com a comunidade e, em algumas culturas, para com a nação. Valoriza-se sobretudo a prole biológica, sendo o recurso à adoção visto como uma assunção de falhanço ou incapacidade para a progenitura.
Ambos os pais, mas sobretudo as mães, são submetidos a escrupuloso escrutínio, desde o momento em que se constituem como casal, até ao momento em que os filhos "estão criados" (quando atingem a sua independência dos pais). Ter filhos é um dado adquirido, um pressuposto tacitamente aceite por todos, e quando alguém tenta escapar a este desígnio, só lhe resta a reprovação social, a vergonha e o ostracismo.
Será justo fazer nascer uma criança só para cumprir as expectativas dos outros (sejam eles a sociedade em geral, os pais ou o/a companheiro/a)? Se a criança tem direito a uma família, a mulher também não terá direito a não constituir uma? E já agora, quais as razões que levam uma mulher a querer ser mãe?
Bem, existem muitas, na verdade. Uma mulher pode querer ser mãe para se sentir integrada e bem acolhida no grupo familiar e social; pode querer agradar ao companheiro e sentir-se valorizada por ser o veículo da concretização da sua masculinidade; pode sentir o apelo da maternidade; pode querer dar continuidade à linha genealógica; pode querer realizar-se através da maternidade; pode querer manipular, controlar, "prender" o companheiro na relação; pode procurar uma extensão de si mesma, um "mini me"... São tantas as razões, umas mais conscientes que outras... Umas mais louváveis que outras...
Cabe a cada pessoa perceber a razão pela qual deseja (ou não) ter filhos. Quando a escolha (seja ela qual for) é feita em consciência, estará sempre certa. Assim como a pessoa estará segura da opção que tomou e pode assumi-la perante família e sociedade sem medo de julgamentos ou críticas.
À atrevida (e inconveniente) pergunta: "Porque não queres ser mãe?" a resposta deve ser um lacónico: "Porque não!". Simples assim. Ninguém tem o direito de se imiscuir nas nossas escolhas e muito menos dar opiniões não solicitadas sobre um tema tão sensível e pessoal.
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